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segunda-feira, 22 de agosto de 2011

CATÓLICO E A POLÍTICA


Acredito ser este o tempo de começar a pensar nas eleições 2012. E acredito que temos que avaliar qual tem sido o nosso papel, enquanto católicos praticantes no processo político. Já que nas comunidades por onde passo sempre ouço das pessoas a famosa pergunta: Diácono qual deve ser a relação da Igreja com a política?
Todos nós sabemos que estamos vivendo, ou melhor, nos encontramos em um momento político particularmente difícil e decisivo, tanto em nossa cidade, como em nosso País.  Vivemos num momento de crise ética e moral na política brasileira. A corrupção existe com raízes nas estruturas públicas, no poder executivo, legislativo e judiciário, quer seja na esfera federal, estadual ou municipal. Ela está por toda parte. Todos os dias se vê a mídia cada vez mais e mais denunciando atos corruptos de deputados, prefeitos, senadores, ministros, juízes, policiais etc.
Existe um sistema de corrupção tão forte que, as faltas de cumprimentos de leis e a falta de valores humanos estão exterminando os valores éticos, morais e religiosos do povo brasileiro, fazendo com que muitas pessoas tornem-se omissas nas práticas de políticas sérias para erradicar a sem-vergonhice no País.
Diante desses desatinos é evidente que não podemos ficar alheios a esses acontecimentos, enquanto Igreja. Cabe à Igreja motivar os seus membros – católicos praticantes - a assumirem a parte da responsabilidade que lhes é devida nesse processo. O engajamento político partidário do “católico consciente”, o seu empenho esmerado pelo bem comum, pela defesa do direito e da justiça, não pode ser visto como um “pecado”, mas sim como um mandato divino. Deve ser visto a luz da vocação antropológica e cristã como uma forma de servir às pessoas e ao projeto de vida idealizado pelo Criador.
Estamos em época pré-eleitoral. Os partidos estão organizando e articulando suas campanhas envolvendo direta ou indiretamente nossas comunidades eclesiais. Queiramos ou não, somos absorvidos pelo processo. E ainda bem que está havendo da parte de muitos irmãos e irmãs leigos “católicos sérios” – não oportunistas - um despertamento com respeito à responsabilidade política partidário-participativa, muitas vezes aplaudida por uns, questionada por outros. Mas, ouso dizer a estes questionadores que qualquer tentativa de se esquivar desta tarefa nos torna culpado no grande mandamento do amor deixado por Jesus, que na ação política consciente, possui um de seus mais eficazes instrumentos de solidariedade humana, para a concretização da sociedade do amor idealizada pelo Senhor Jesus.
Como Igreja devemos nos conscientizar de que a injustiça, a corrupção, a violência e a fome em nosso País, desafiam a nossa consciência cristã católica. Como filhos da luz estamos proibidos pela consciência cristã de dicotomizar fé e política. Elas não são coisas estanques, mas instrumentos que devem traduzir-se em ação a favor das vítimas de nossa sociedade e consequentemente de uma ordem social mais justa, fraterna e igualitária.
Diác. Misael

...NÃO PODEREI FAZER DE VÓS O QUE FAZ O OLEIRO? (JR. 18,5)


Uma coisa que me faz feliz e que traz grande consolação a minha alma, é saber que Deus não desiste de trabalhar em nossa vida. Ainda que sejamos um vaso de barro que se quebra em suas mãos. Ele é um como um grande oleiro no cotidiano da nossa vida.  Ele não se entrega à difícil tarefa de nos moldar.  É um Oleiro que se preocupa mesmo quando um vaso se estraga em suas mãos. Ele não nos joga fora, mas nos molda mais uma vez e nos faz um vaso novo. Ele não desiste e nem se abdica do direito que tem de trabalhar a nossa vida. Ele nos ama, e por amar, jamais haverá de nos descartar como algo sem valor.

Esse Deus é maravilhoso, porque nos faz vasos para um determinado propósito, por isso temos sempre uma utilidade diante dele. Ele cuida de nós! Sabe por quê? Porque um vaso defeituoso, rachado ou com trincas, jamais poderá cumprir os propósitos determinados por Ele!  Um bom oleiro é sempre paciente, sempre torna a fazer do vaso estragado outro vaso novo. Assim Deus faz com a gente! Antes de usar nossa vida para algum ministério, ele trabalha a nossa vida. Deus está mais interessado em quem somos do que naquilo que somos capazes de fazer. Para Ele nosso caráter é muito mais importante do que nosso desempenho. A vida íntegra diante dele precede qualquer que seja o nosso ministério. Pois Ele antes de trabalhar através da nossa vida, ele trabalha em nós. Uma coisa que Deus não faz e jamais fará é reparar vasos velhos, pois Ele se apraz é em fazer vasos novos.

Não pensemos que a vida do cristão católico é apenas a aplicação uma camada de verniz ético nas rachaduras, nas fissuras do nosso caráter. A obra de Deus em nós não é simplesmente uma reforma da estrutura do velho homem. Mas é Deus o oleiro competente, que nos tomando como o barro nos modela e faz dele um novo vaso, um vaso de honra. Deus em Cristo faz de nós novas criaturas, assim, as coisas antigas ficam para trás e tudo se faz novo. Isto é, nascemos de novo, do alto, de cima, do Espírito Santo. Passamos a usar um novo nome, uma nova mente, um novo coração, uma nova família, uma nova Pátria.

Devemos levar em conta que Deus não nos faz um vaso segundo o nosso desejo, mas conforme sua vontade soberana. Pois segundo a lógica dos artesãos eles fazem vasos conforme suas vontades. Não é o barro que determina ao oleiro a forma e a finalidade para o qual será criado. O oleiro é e será sempre soberano sobre o barro. Ele será sempre livre para fazer do barro o vaso que deseja e para o uso que ele imaginou. O apóstolo Paulo pergunta: "Quem és tu, ó homem, para discutires com Deus?! Porventura, pode o objeto perguntar a quem o fez: Por que me fizeste assim?" (Rm 9.20). Não é a nossa vontade que deve prevalecer no céu, mas a vontade de Deus que deve ser feita na Terra.

Finalizo dizendo que Deus, como oleiro, mesmo sendo competente, não modela um vaso de pedra, pois esta é resiste ao ser modelada. Muito menos Deus trabalha com areia, pois esta não tem liga, não usa a lama, porque esta apenas suja as mãos do oleiro. Deus só molda vasos de barros, porque este tem liga e se submete à modelagem que o oleiro deseja e depois, esse vaso deixa ser levado ao forno. No fogo ele não é destruído, mas pelo contrário, torna-se sólido e útil. Após, trabalhado provado, esse vaso é destinado ao uso para o qual foi projetado.

É bom ficarmos refletindo... Pois fomos criados para o louvor, a honra e a glória de Deus. Portanto, devemos ser vasos preciosos, sólidos, limpos e úteis. Devemos ser vasos de honra preparados para toda boa obra e cheios do Espírito Santo de Deus. Nós por nossos próprios méritos somos vasos que têm pouco valor; porém, somos vasos que transportam um tesouro de valor inestimável. Bendito seja o Senhor nosso Deus, esse oleiro maravilhoso, que nos fez do barro e que para nos salvar entrou no barro, encarnou-se e habitou entre nós, para fazer de nós vasos de honra, úteis para toda boa obra.

Diác. Misael

CONTINUAR SEMPRE... PARAR JAMAIS!


Quero refletir com vocês um tema que tem sido uma preocupação no cotidiano do homem e da mulher do nosso tempo, em especial nas atividades (apostolado) religiosas. Estou me referindo à continuação daquilo que se começou.
Queridos, o primeiro problema que temos na vida religiosa é não começar coisa alguma. O segundo problema e começar e não dar continuidade. O Terceiro é começar, ir em frente por um período de tempo e pouco depois desistir. Para quem já pôs a mão no arado o maior desafio é dar continuidade ao que começou, ou melhor, continuar sempre... Parar jamais!
Neste processo de continuar sempre, implica primeiramente a nossa descoberta da fé, a iniciação no seguimento do Senhor, o despertar para a importância das coisas de Deus, o abraçar as coisas do Reino de Deus em primeiro lugar e a conversão sincera ao Senhorio do Senhor Jesus Cristo. Na sequencia desse processo vem a caminhada, isto é, o discipulado, a negação do “eu”, a renuncia de tudo aquilo que é pecado, a obediência incondicional devida ao Senhor Jesus e a continuação do compromisso assumido com Ele e a Sua Igreja. Esse compromisso implica necessariamente viver uma “vida nova”, uma nova situação: vida de apostolado, ou seja, ser testemunha do Senhor – isso implica continuar sempre... Parar jamais!
Sobre a importância do Continuar sempre... Parar jamais; A bíblia nos dá um exemplo sobre a atitude do apostolo Pedro ao sair da prisão. O relato diz que já era altas horas da noite, Pedro chegou a casa de Maria mãe de João Marcos e bateu à porta. A empregada veio, mas não abriu a porta para ele. Mas ele continuou a bater. Houve na sequencia uma discussão entre os que estavam ali a reunidos a noite toda em oração por ele. Pedro não desistiu e continuou a bater, até que a porta abriu. (At 12, 12-16).
12 Refletiu um momento e dirigiu-se para a casa de Maria, mãe de João, que tem por sobrenome Marcos, onde muitos se tinham reunido e faziam oração. 13 Quando bateu à porta de entrada, uma criada, chamada Rode, adiantou-se para escutar. 14 Mal reconheceu a voz de Pedro, de tanta alegria não abriu a porta, mas, correndo para dentro, foi anunciar que era Pedro que estava à porta. 15 Disseram-lhe: Estás louca! Mas ela persistia em afirmar que era verdade. Diziam eles: Então é o seu anjo. 16 Pedro continuava a bater. Afinal abriram a porta, viram-no e ficaram atônitos. (At 12, 12-16)
Narrativa semelhante vamos encontrar com o homem  da parábola de Jesus que insistiu com o amigo até ele lhe emprestar três pães (Lc 11, 5-8). Também, temos o exemplo do apóstolo São Paulo que embora congratule com os coríntios, porque eles tinham aceitado o Evangelho e continuavam firmes (1 Cor 15,1), mas no versículo seguinte o apóstolo chama a atenção deles para continuar sempre: “Por ele sereis salvos, se o conservardes como vo-lo preguei. De outra forma, em vão teríeis abraçado a fé”.( 1Cor 15,2). Antes de encerrar a sua carta, por mais duas vezes Paulo exorta-os a continuarem firmes: “sede firmes e inabaláveis” (1Cor 15,58) e “ Vigiai! Sede firmes na fé! Sede homens! Sede fortes!” (1Cor 16,13).
Amados, o continuar sempre... Parar jamais!  Resolverá muitos problemas dos nossos irmãos e irmãs em nossa Igreja, especialmente nas comunidades eclesiais. Pois é essa falta de continuação, dia após dia, que acaba arrefecendo a fé e o testemunho cristão. Lembremos que não existem feriados e nem férias para continuar Sempre... Continuar sempre na fé e no testemunho de vida é uma linha firme que liga o ontem ao hoje e o hoje ao dia do juízo final. A nossa jornada não é curta; ela longa e muito longa. O Senhor nos fala das dificuldades, mas também fala da felicidade dos que se propõe a continuar sempre..., quando nos diz: “E sereis odiados de todos por causa de meu nome. Mas o que perseverar até o fim será salvo” (Mc 13,13).
Meus amados irmãos e irmãs, eu vos digo que deveis continuar Sempre... Pois, não existem paradas ao longo da nossa jornada, da nossa peregrinação cristã. A única parada será o fim dos tempos, quando nosso amado Senhor Jesus  voltar, por ocasião da sua segunda vinda gloriosa, quando se dará a plenitude da nossa salvação. O Continuar sempre... descamba naturalmente na consumação da história universal. Assim, devemos tomar o conselho da carta aos hebreus que diz: “Desejamos, apenas, que ponhais todo o empenho em guardar intata a vossa esperança até o fim” que, longe de vos tornardes negligentes, sejais imitadores daqueles que pela fé e paciência se tornam herdeiros das promessas.”, (Hb 6,11-12). Mas, se por ventura houver ao longo da jornada alguma parada provocada por negligencia ou até mesmo pecado, a grande “regra de ouro” são estas palavras de Jesus: “... Nem eu te condeno. Vai e não tornes a pecar”. (Jo 8,11b). O próprio Senhor Jesus deixou claro na parábola da viúva persistente que é necessário orar sempre para que possamos Continuar... Sempre... Parar Jamais! (Lc 18, 1-6).
Diác. Misael

FUNDAMENTALISMO OBTUSO

Sempre aos domingos de manhã, logo ao acordar-me e fazer meu devocional, vou dar uma olhadela nos canais de televisão, vejo o que está passando e assim atualizo o meu dia. Muitas vezes as noticias, ou alguns assuntos, tornam-me úteis para usar com exemplificação no meu sermão dominical.
Mas, num domingo desses deparei-me com certo pastor evangélico, vestido num belo terno escuro, com uma linda gravata de seda vermelha, combinado com sua bela camisa listrada, vociferando palavras pesadas contra alguns crentes do seu próprio segmento evangélico. Vez por outra ele colocava o dedo em riste na direção da câmera e pontificava como se tivesse sentado na cadeira de Moisés. Confesso que me deu pena daquele pastor, tão inteligente, pelo que pude observar, mas tão caduco e fundamentalista. Não quero aqui julgar suas verdades e muito menos questioná-las, apenas fiquei inquieto e pasmo com sua postura rancorosa, anacrônica e trancado ao diálogo religioso.
Pelo que tenho lido, muitos estudiosos pensadores do nosso tempo são unânimes em afirmar que estamos experimentando um agravamento do fundamentalismo. E aqui não estou tratando do fundamentalismo teológico, mas sim como uma atitude comportamental. Olhem para o nossa sociedade local ou mundial, ela experimenta uma crescente animosidade nas discordâncias. As pessoas se entrincheiram em seus argumentos e não ouvem os argumentos dos outros e, quando se sentem ameaçados, partem para algum tipo de violência.
O fundamentalismo te se mostrado exuberante na radicalização ideológica nos países da América latina, tanto os de direita ou de esquerda. Tem tentáculos fortes nos isolamentos dos países islâmicos e nos preconceitos entre os movimentos cristãos, no xenofobismo europeu e nos nacionalismos dos países africanos. O fundamentalismo seja de qualquer espécie não respeita fronteiras – geográfica, étnica, cronológica, religiosa ou cultural. Pois, os fundamentalistas não aceitam contribuição de quem não comunga com os mesmos sinais, com os mesmos cacoetes de seu grupo. Os diferentes podem até tentar comunicar alguma verdade, mas serão rechaçados por não serem identificados com “um dos nossos”. Aliás, os romancistas, músicos, poetas e místicos e qualquer outro entretimento estão impedidos de ajudar um fundamentalista arejar a sua mente.
Os fundamentalistas desprezam conteúdos e se espantam com rótulos. As lideranças fundamentalistas adoram falar mal do diferente com estereótipos. Etiquetam pessoas como hereges para que seus argumentos fiquem “sub judice” , isto é, fiquem sob julgamento, antes de serem articulados. Pois o pavor de serem contaminados por um apóstata -segundo seus paradigmas- encerra qualquer diálogo.
Os fundamentalistas quando religioso pensam que o futuro da fé está no passado e que o modelo de fé vivida hoje não salva. Que Deus só age no espaço que a sua seita ou religião idealizou ou delimitou. Só a eles Deus se revela, eles se intitulam como “verdadeiros” profetas apocalípticos. São temerosos, preconceituosos e de difícil trato. Procuram atribuir à Deus atributos temerosos para intimidar seus adeptos.  Foi bem isso, que vi e ouvi naquele domingo daquele pastor. Ele esqueceu que Jesus foi um grande relativista em vista da salvação. Ele relativizou a Lei em nome da misericórdia ao perdoar a mulher apanhada em adultério; (Cf. Jo 8,7) relativizou a Tradição ao curar no sábado (Cf. Mt 12, 7-13), relativizou sua própria proibição alcançar os gentios ao atender o pedido de uma mulher aflita devido a doença da filha (Cf. Mt 10, 5-6). Jesus foi um homem de vanguarda. Ele estava muito além do seu tempo quanto à valorização da pessoa humana e no trato com a riqueza. Ninguém neste mundo pode arvora-se, isto é, levantar a bandeira de ter consigo toda a verdade, pois Jesus afirmou que só  Ele é “O Caminho, a verdade e a vida”. ( Cf. Jo 14,6)
Finalizando, digo que vi naquele homem bem vestido da televisão, um pastor que corre sério risco de perpetuar uma fé amarga, obtusa e crescentemente isolada. Um homem doente fazendo discípulos alienados, preconceituosos e fundamentalistas. Com toda certeza no futuro ele será colocado a escanteio,  e sem credulidade o cristianismo pregado por ele perecerá como o sal que perdeu seu gosto. Torço para que a próxima geração de cristão que há de nos suceder seja tão assustadoramente revolucionária como foi Jesus. Que se desvencilhe dos preconceitos e busquem no diálogo inter-religioso, cultural, étnico, geográfico e cronológico a paz idealizada pelo Senhor Jesus. Só assim estaremos construindo a sociedade do amor.  Pois de fundamentalistas de plantão, o cristianismo e o mundo já esta de “s” cheio.
Diác. Misael