Hoje, como
nos tempos da Igreja primitiva, deve ressoar entre homens e mulheres do nosso
tempo o primeiro anuncio da boa nova. Esse anúncio deve ser uma práxis que
continuamente a comunidade católica deve a exemplo de Cristo, e de forma
permanente assumir a responsabilidade de fazê-lo. Esse anúncio deve ser
querigmático, verbalizado explicitamente e com devida clareza anunciado a
pessoa de Jesus Cristo e sua Missão salvadora.
Já há alguns
anos venho anunciando essa necessidade, até mesmo iniciou-se um projeto
diocesano no auge do PRNM – Projeto Rumo ao Novo Milênio -, mas que não foi em
frente, pois, não foi assumido pelas paróquias. Aliás, esse projeto tinha uma
metodologia e uma pedagogia eficiente para a formação do missionário evangelizador,
porém havia necessidade de investir financeiramente em um curso que duravam 13
dias consecutivos. Também era necessário que as pessoas sentissem a necessidade
de ser evangelizados para torna-se evangelizadores, isso implicaria renunciar
dias da semana para evangelizar-se e formar-se. Um curso que não apresentava
uma doutrina, mas uma pessoa: Jesus.
Hoje, não
restam mais dúvidas, está aí vários documentos da Igreja, entre eles o Documento
de Aparecida, o Doc. 88, da CNBB, e o Doc. Missão Continental, que nos
interpelam para nos convertermos a uma prática eminentemente missionária, mas
com uma proposta que atenda os anseios dos homens do nosso tempo. Dentre, eles
aquela que nos levar a ser verdadeiros discípulos missionários: o querígma. “O
primeiro anuncio, ou a evangelização querigmática é o “elemento basilar e
determinante da experiência de fé, da vida e da missão da Igreja”[i]
No anuncio da pessoa de Jesus como Senhor e Salvador, o Messias que veio para
nos dar o seu Espírito para viver uma vida nova em comunidade, subsiste o
discipulado dinâmico.
Para ser
discípulo de Jesus não basta só ser batizado, não é só ter o pecado original
reparado, é preciso ser novo, é preciso ter um “eu” recriado por Deus na
Justiça e na verdadeira santidade. O homem novo é regenerado, isto é, gerado de
novo “importa nascer de novo” (Jo 3,7b).
Para ser
discípulo precisa deixar a velha natureza, pois ela não agrada a Deus, nela não
há perfeição, ela é fraca demais para seguir o mestre Jesus. Quem vive a velha
natureza não consegue servir a Deus, “Porventura
lança uma fonte por uma mesma bica água doce e água amargosa? Acaso, meus
irmãos, pode a figueira dar azeitonas ou a videira dar figos? Do mesmo modo a
fonte de água salobra não pode dar água doce”. (Tg 3, 11-12).
Um homem
novo, recriado a imagem de Cristo, assim como uma vida nova também não pode ser
conquistado somente por um desenvolvimento natural ou esforço pessoal, mas sim
pelo “encontro com Jesus”, que nos dá a sua natureza, exigência para o
discipulado e entrada na vida eterna. O caminho para vida nova, para o
discipulado passa necessariamente pelo anuncio querigmático, sem o qual não
haverá uma Igreja Missionária. É uma pena que tenhamos perdido tempo, com
coisas periféricas e esquecemos-nos do querígma e da evangelização fundamental,
ficamos somente no verniz, isto é envernizamos os nossos batizados de cristãos
e esquecemos que era preciso fazê-los discípulos do Senhor.
Ninguém
se torna cristão somente em conseqüência de um processo de educação religiosa.
Daí que muitos católicos de tradição desconhecem a essência da experiência
cristã, do discipulado, porque foram só educados para uma vida religiosa. Não
houve mudança interior no coração. Isso não é nenhuma crítica a Catequese
religiosa, mas talvez uma advertência sobre o perigo do uso impróprio da
educação religiosa, quando esta substitui a experiência cristã do encontro
pessoal com o Senhor Jesus Cristo Vivo e ressuscitado. “A acolhida do querígma produz a salvação e a mudança das pessoas; foi
o que aconteceu com os apóstolos, com Zaqueu, com Madalena e com muitos
outros...” [ii]
O que mais
precisamos agora é investir no anuncio querigmático, para que possamos nos converter
numa igreja cheia do Espírito Santo, cheia de ímpeto missionário e de audácia
evangelizadora (Cnf DAp nº 549), só assim, seremos como os discípulos
missionários da primeira hora da Igreja. Precisamos assumir uma nova postura
eclesial, para que a dimensão missionária com uma evangelização querigmática,
tenha o mesmo valor que se dá a dimensão litúrgica. Precisamos pensar missão,
pensar evangelização em tempo integral, se isto não acontecer, vamos continuar
a editar documentos, lê-los e ficar na mesma! Preocupamo-nos muito com a
posição das velas sobre o altar, mas não preocupamos com a posição do homem
diante de Deus, diante da pessoa de Jesus Cristo.
Está muito
certo o Doc. de Aparecida, quando diz que precisamos de uma “conversão pessoal
e pastoral”, acredito piamente que será por aí a nossa saída da Sacramentalização
e da Pastoral de conservação, para uma Igreja em estado permanente de missão,
comprometida com o anúncio querigmático.
O que mais
precisamos hoje é fazer discípulos missionários, este foi o mandato de Cristo à
sua Igreja: “Ide, pois, fazer
discípulos...” (Mt 28,19), mandato que se repete hoje no clamor dos bispos
da America Latina e Caribe. Precisamos pensar nisso, pois o número de católicos
não tem aumentado, não estamos crescendo proporcionalmente ao número de
habitantes. Em vez de crescer fazendo discípulos, (Mt 28,19) estamos sendo
absolvidos e limitados a um espaço menor, somos hoje 68,4% (pesquisa da FGV) da população brasileira— o menor porcentual da
história (no início dos anos 80, 90% da população era católica. Não
estamos conquistando as pessoas para Cristo. Segundo as estatísticas estamos
perdendo fieis para outras denominações cristãs, acredito que deveríamos
perguntar “porque deixamos que nossos
fiéis debandem para outras denominações?” “Porque não somos capazes de reter aqueles que se encontra em nossas
igrejas?”
Será que não
está faltando da nossa parte o comprometer-se: “… Eis que vos digo: levantai os vossos
olhos e vede os campos, porque já estão brancos para a ceifa.” (Jo 4,35).
Um campo maduro para a ceifa exige do agricultor o compromisso de uma ação
imediata, exige dele o desalojar-se. Repito, a evangelização é uma ordem
explícita do Senhor Jesus, e não uma opção da Igreja. É um mandamento divino, e
não uma recomendação humana. A evangelização dos povos, fazendo deles
discípulos missionários do Senhor, só pode ser feita pela Igreja. Nenhuma outra instituição na
terra pode cumprir essa tarefa. A igreja é o método de Deus para salvar almas. Se
a igreja falhar – eu e você -, Deus não tem outro método. Se o pecador morrer
no seu pecado por falta do anuncio do Evangelho, Deus cobrará de nós o seu
sangue. A evangelização não pode esperar. Ela é impostergável.
É Preciso que nós, enquanto discípulos do Senhor, tenhamos o senso da
urgência missionária como nosso Mestre que disse. “... Meu alimento é fazer a vontade daquele
que me enviou e cumprir a sua obra” (Jo 4.34). Jesus com certeza estava com muita fome, mas,
tinha algo muito mais urgente para fazer do que se alimentar. Seu
propósito era dar a água da vida à mulher samaritana que estava ao redor do
poço. O
que precisamos nos dias de hoje ter a mesma urgência do Senhor Jesus.
O que tem nos impedido de evangelizar não é tanto falta de metodologia, mas
falta de paixão, de ardor missionário. Devemos tomar urgentemente as palavras
do Apóstolo Paulo e fazê-la nossa: “Anunciar
o Evangelho não é glória para mim; é uma obrigação que se me impõe. Ai de mim,
se eu não anunciar o Evangelho!” (1Cor 9,16). Uma Igreja que não evangeliza, precisa ser evangelizada para renascer!