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quarta-feira, 13 de junho de 2012

EVANGELIZAR PARA RENASCER



Hoje, como nos tempos da Igreja primitiva, deve ressoar entre homens e mulheres do nosso tempo o primeiro anuncio da boa nova. Esse anúncio deve ser uma práxis que continuamente a comunidade católica deve a exemplo de Cristo, e de forma permanente assumir a responsabilidade de fazê-lo. Esse anúncio deve ser querigmático, verbalizado explicitamente e com devida clareza anunciado a pessoa de Jesus Cristo e sua Missão salvadora.

Já há alguns anos venho anunciando essa necessidade, até mesmo iniciou-se um projeto diocesano no auge do PRNM – Projeto Rumo ao Novo Milênio -, mas que não foi em frente, pois, não foi assumido pelas paróquias. Aliás, esse projeto tinha uma metodologia e uma pedagogia eficiente para a formação do missionário evangelizador, porém havia necessidade de investir financeiramente em um curso que duravam 13 dias consecutivos. Também era necessário que as pessoas sentissem a necessidade de ser evangelizados para torna-se evangelizadores, isso implicaria renunciar dias da semana para evangelizar-se e formar-se. Um curso que não apresentava uma doutrina, mas uma pessoa: Jesus.

Hoje, não restam mais dúvidas, está aí vários documentos da Igreja, entre eles o Documento de Aparecida, o Doc. 88, da CNBB, e o Doc. Missão Continental, que nos interpelam para nos convertermos a uma prática eminentemente missionária, mas com uma proposta que atenda os anseios dos homens do nosso tempo. Dentre, eles aquela que nos levar a ser verdadeiros discípulos missionários: o querígma. “O primeiro anuncio, ou a evangelização querigmática é o “elemento basilar e determinante da experiência de fé, da vida e da missão da Igreja”[i] No anuncio da pessoa de Jesus como Senhor e Salvador, o Messias que veio para nos dar o seu Espírito para viver uma vida nova em comunidade, subsiste o discipulado dinâmico.

Para ser discípulo de Jesus não basta só ser batizado, não é só ter o pecado original reparado, é preciso ser novo, é preciso ter um “eu” recriado por Deus na Justiça e na verdadeira santidade. O homem novo é regenerado, isto é, gerado de novo “importa nascer de novo” (Jo 3,7b).

Para ser discípulo precisa deixar a velha natureza, pois ela não agrada a Deus, nela não há perfeição, ela é fraca demais para seguir o mestre Jesus. Quem vive a velha natureza não consegue servir a Deus, “Porventura lança uma fonte por uma mesma bica água doce e água amargosa? Acaso, meus irmãos, pode a figueira dar azeitonas ou a videira dar figos? Do mesmo modo a fonte de água salobra não pode dar água doce”. (Tg 3, 11-12).

Um homem novo, recriado a imagem de Cristo, assim como uma vida nova também não pode ser conquistado somente por um desenvolvimento natural ou esforço pessoal, mas sim pelo “encontro com Jesus”, que nos dá a sua natureza, exigência para o discipulado e entrada na vida eterna. O caminho para vida nova, para o discipulado passa necessariamente pelo anuncio querigmático, sem o qual não haverá uma Igreja Missionária. É uma pena que tenhamos perdido tempo, com coisas periféricas e esquecemos-nos do querígma e da evangelização fundamental, ficamos somente no verniz, isto é envernizamos os nossos batizados de cristãos e esquecemos que era preciso fazê-los discípulos do Senhor.

Ninguém se torna cristão somente em conseqüência de um processo de educação religiosa. Daí que muitos católicos de tradição desconhecem a essência da experiência cristã, do discipulado, porque foram só educados para uma vida religiosa. Não houve mudança interior no coração. Isso não é nenhuma crítica a Catequese religiosa, mas talvez uma advertência sobre o perigo do uso impróprio da educação religiosa, quando esta substitui a experiência cristã do encontro pessoal com o Senhor Jesus Cristo Vivo e ressuscitado. “A acolhida do querígma produz a salvação e a mudança das pessoas; foi o que aconteceu com os apóstolos, com Zaqueu, com Madalena e com muitos outros...” [ii]

O que mais precisamos agora é investir no anuncio querigmático, para que possamos nos converter numa igreja cheia do Espírito Santo, cheia de ímpeto missionário e de audácia evangelizadora (Cnf DAp nº 549), só assim, seremos como os discípulos missionários da primeira hora da Igreja. Precisamos assumir uma nova postura eclesial, para que a dimensão missionária com uma evangelização querigmática, tenha o mesmo valor que se dá a dimensão litúrgica. Precisamos pensar missão, pensar evangelização em tempo integral, se isto não acontecer, vamos continuar a editar documentos, lê-los e ficar na mesma! Preocupamo-nos muito com a posição das velas sobre o altar, mas não preocupamos com a posição do homem diante de Deus, diante da pessoa de Jesus Cristo.

Está muito certo o Doc. de Aparecida, quando diz que precisamos de uma “conversão pessoal e pastoral”, acredito piamente que será por aí a nossa saída da Sacramentalização e da Pastoral de conservação, para uma Igreja em estado permanente de missão, comprometida com o anúncio querigmático.

O que mais precisamos hoje é fazer discípulos missionários, este foi o mandato de Cristo à sua Igreja: “Ide, pois, fazer discípulos...” (Mt 28,19), mandato que se repete hoje no clamor dos bispos da America Latina e Caribe. Precisamos pensar nisso, pois o número de católicos não tem aumentado, não estamos crescendo proporcionalmente ao número de habitantes. Em vez de crescer fazendo discípulos, (Mt 28,19) estamos sendo absolvidos e limitados a um espaço menor, somos hoje 68,4% (pesquisa da FGV) da população brasileira— o menor porcentual da história (no início dos anos 80, 90% da população era católica. Não estamos conquistando as pessoas para Cristo. Segundo as estatísticas estamos perdendo fieis para outras denominações cristãs, acredito que deveríamos perguntar “porque deixamos que nossos fiéis debandem para outras denominações?” “Porque não somos capazes de reter aqueles que se encontra em nossas igrejas?”

Será que não está faltando da nossa parte o comprometer-se: “… Eis que vos digo: levantai os vossos olhos e vede os campos, porque já estão brancos para a ceifa.” (Jo 4,35). Um campo maduro para a ceifa exige do agricultor o compromisso de uma ação imediata, exige dele o desalojar-se. Repito, a evangelização é uma ordem explícita do Senhor Jesus, e não uma opção da Igreja. É um mandamento divino, e não uma recomendação humana. A evangelização dos povos, fazendo deles discípulos missionários do Senhor, só pode ser feita pela Igreja. Nenhuma outra instituição na terra pode cumprir essa tarefa. A igreja é o método de Deus para salvar almas. Se a igreja falhar – eu e você -, Deus não tem outro método. Se o pecador morrer no seu pecado por falta do anuncio do Evangelho, Deus cobrará de nós o seu sangue. A evangelização não pode esperar. Ela é impostergável.  

É Preciso que nós, enquanto discípulos do Senhor, tenhamos o senso da urgência missionária como nosso Mestre que disse. “... Meu alimento é fazer a vontade daquele que me enviou e cumprir a sua obra” (Jo 4.34). Jesus com certeza estava com muita fome, mas, tinha algo muito mais urgente para fazer do que se alimentar. Seu propósito era dar a água da vida à mulher samaritana que estava ao redor do poço. O que precisamos nos dias de hoje ter a mesma urgência do Senhor Jesus. O que tem nos impedido de evangelizar não é tanto falta de metodologia, mas falta de paixão, de ardor missionário. Devemos tomar urgentemente as palavras do Apóstolo Paulo e fazê-la nossa: “Anunciar o Evangelho não é glória para mim; é uma obrigação que se me impõe. Ai de mim, se eu não anunciar o Evangelho!” (1Cor 9,16). Uma Igreja que não evangeliza, precisa ser evangelizada para renascer!



[i] Subsidio doutrinal nº 4 da CNBB – Anúncio querigmático e evangelização Fundamental.
[ii] Subsidio doutrinal nº 4 da CNBB – Anúncio querigmático e evangelização Fundamental, nº 32