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segunda-feira, 22 de agosto de 2011

FUNDAMENTALISMO OBTUSO

Sempre aos domingos de manhã, logo ao acordar-me e fazer meu devocional, vou dar uma olhadela nos canais de televisão, vejo o que está passando e assim atualizo o meu dia. Muitas vezes as noticias, ou alguns assuntos, tornam-me úteis para usar com exemplificação no meu sermão dominical.
Mas, num domingo desses deparei-me com certo pastor evangélico, vestido num belo terno escuro, com uma linda gravata de seda vermelha, combinado com sua bela camisa listrada, vociferando palavras pesadas contra alguns crentes do seu próprio segmento evangélico. Vez por outra ele colocava o dedo em riste na direção da câmera e pontificava como se tivesse sentado na cadeira de Moisés. Confesso que me deu pena daquele pastor, tão inteligente, pelo que pude observar, mas tão caduco e fundamentalista. Não quero aqui julgar suas verdades e muito menos questioná-las, apenas fiquei inquieto e pasmo com sua postura rancorosa, anacrônica e trancado ao diálogo religioso.
Pelo que tenho lido, muitos estudiosos pensadores do nosso tempo são unânimes em afirmar que estamos experimentando um agravamento do fundamentalismo. E aqui não estou tratando do fundamentalismo teológico, mas sim como uma atitude comportamental. Olhem para o nossa sociedade local ou mundial, ela experimenta uma crescente animosidade nas discordâncias. As pessoas se entrincheiram em seus argumentos e não ouvem os argumentos dos outros e, quando se sentem ameaçados, partem para algum tipo de violência.
O fundamentalismo te se mostrado exuberante na radicalização ideológica nos países da América latina, tanto os de direita ou de esquerda. Tem tentáculos fortes nos isolamentos dos países islâmicos e nos preconceitos entre os movimentos cristãos, no xenofobismo europeu e nos nacionalismos dos países africanos. O fundamentalismo seja de qualquer espécie não respeita fronteiras – geográfica, étnica, cronológica, religiosa ou cultural. Pois, os fundamentalistas não aceitam contribuição de quem não comunga com os mesmos sinais, com os mesmos cacoetes de seu grupo. Os diferentes podem até tentar comunicar alguma verdade, mas serão rechaçados por não serem identificados com “um dos nossos”. Aliás, os romancistas, músicos, poetas e místicos e qualquer outro entretimento estão impedidos de ajudar um fundamentalista arejar a sua mente.
Os fundamentalistas desprezam conteúdos e se espantam com rótulos. As lideranças fundamentalistas adoram falar mal do diferente com estereótipos. Etiquetam pessoas como hereges para que seus argumentos fiquem “sub judice” , isto é, fiquem sob julgamento, antes de serem articulados. Pois o pavor de serem contaminados por um apóstata -segundo seus paradigmas- encerra qualquer diálogo.
Os fundamentalistas quando religioso pensam que o futuro da fé está no passado e que o modelo de fé vivida hoje não salva. Que Deus só age no espaço que a sua seita ou religião idealizou ou delimitou. Só a eles Deus se revela, eles se intitulam como “verdadeiros” profetas apocalípticos. São temerosos, preconceituosos e de difícil trato. Procuram atribuir à Deus atributos temerosos para intimidar seus adeptos.  Foi bem isso, que vi e ouvi naquele domingo daquele pastor. Ele esqueceu que Jesus foi um grande relativista em vista da salvação. Ele relativizou a Lei em nome da misericórdia ao perdoar a mulher apanhada em adultério; (Cf. Jo 8,7) relativizou a Tradição ao curar no sábado (Cf. Mt 12, 7-13), relativizou sua própria proibição alcançar os gentios ao atender o pedido de uma mulher aflita devido a doença da filha (Cf. Mt 10, 5-6). Jesus foi um homem de vanguarda. Ele estava muito além do seu tempo quanto à valorização da pessoa humana e no trato com a riqueza. Ninguém neste mundo pode arvora-se, isto é, levantar a bandeira de ter consigo toda a verdade, pois Jesus afirmou que só  Ele é “O Caminho, a verdade e a vida”. ( Cf. Jo 14,6)
Finalizando, digo que vi naquele homem bem vestido da televisão, um pastor que corre sério risco de perpetuar uma fé amarga, obtusa e crescentemente isolada. Um homem doente fazendo discípulos alienados, preconceituosos e fundamentalistas. Com toda certeza no futuro ele será colocado a escanteio,  e sem credulidade o cristianismo pregado por ele perecerá como o sal que perdeu seu gosto. Torço para que a próxima geração de cristão que há de nos suceder seja tão assustadoramente revolucionária como foi Jesus. Que se desvencilhe dos preconceitos e busquem no diálogo inter-religioso, cultural, étnico, geográfico e cronológico a paz idealizada pelo Senhor Jesus. Só assim estaremos construindo a sociedade do amor.  Pois de fundamentalistas de plantão, o cristianismo e o mundo já esta de “s” cheio.
Diác. Misael

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