O evangelho
de São João descreve que muitas pessoas estavam seguindo Jesus no inicio do seu
ministério. Diz que “Enquanto Jesus celebrava em Jerusalém a
festa da Páscoa, muitos creram no seu nome, à vista dos milagres que fazia. Mas
Jesus mesmo não se fiava neles, porque os conhecia a todos”. (Jo 2, 23-24)
A pergunta
que não quer calar é, por que Jesus não se fiava neles? Porque Ele sabia que
aquelas pessoas acreditavam Nele com as mentes e não com os corações. Isso nos faz crer que existe uma grande
diferença entre uma fé intelectual, uma fé genética e a conversão do coração,
da conversão total que salva a alma cristã. Há muitas pessoas que se
tornaram “cristãos católicos genéticos”,
isto é, por uma “fé” transmitida por
tradição de família, uma “fé” inconsequente, uma “fé” que nunca os levaram a
uma autentica conversão ao Senhor. Ser
cristão implica em uma mudança, um modo novo de viver. Implica ser
discípulo de Jesus! E o
discípulo é uma pessoa que segue os ensinamentos de um mestre.
O ser
humano alimenta em si uma demanda por
mudanças, por transformações. A inércia é geralmente um sinônimo de não
vitalidade. E assim acontece na fé cristã, quando passamos pela transformação,
pela conversão ao Senhor, nos tornamos vivos em Cristo, nos tornamos seus
discípulos. Como parte da teologia cristã, a
conversão nos faz melhor, vivendo uma fé mais autêntica, mais dinâmica.
Ser cristão hoje, aliás, sempre, exigiu uma mudança no modo de “ser e viver” do batizado, pois, se o
seu “ser” cristão for igual ao
proceder dos descrentes, é necessário duvidar da fé que se vive.
Para viver
um cristianismo sadio, uma fé cristã autentica é preciso existir uma conversão da vontade. É preciso
existir uma autentica determinação de seguir
e obedecer ao Senhor Jesus. Quando há uma conversão verdadeira aos pés
do Senhor, o próprio Espírito Santo faz nos perceber que somos pecadores, Ele
fará com que nossa fé seja dirigida ao Cristo que morreu em nosso lugar. Quando
abrimos nosso coração ao Espírito de Deus, realiza-se
em nós o milagre da vida nova. Tornamo-nos verdadeiramente pessoas moralmente correta e invadidos
pela natureza divina. A nossa transformação em um homem espiritual não
significa que não haja impacto em toda nossa amplitude humana, pois o homem
espiritual é sempre um homem posto no tempo e no espaço, condicionado e
condicionante de relações pessoais e materiais.
Se a
conversão é autentica posso
continuar a amar o que eu amava antes, porém as razões para amar serão
diferentes, pois o convertido amará o
bem que um dia detestou e detestará o pecado que um dia amou. O homem
novo tem seus sentimentos com relação a Deus mudado, pois se no passado
negligenciava Deus, agora mergulha numa completa reverencia à Ele.
Acredito
que não basta ser um católico, não basta ser batizado, não basta ser de missa
diária, se não houver um coração convertido. O próprio Senhor disse que para
chegar ao céu é preciso se converter, transformar. Não sou eu que digo, mas o
Senhor quem diz: “Em
verdade vos declaro: se não vos transformardes e vos tornardes como
criancinhas, não entrareis no Reino dos céus”. (Mt 18,3) É de grande significado que Jesus não
tivesse dito às crianças para imitarem os seus discípulos, mas aos seus
discípulos para que imitassem as crianças. Isso porque pela fé inocente, todos
têm uma oportunidade de ser salvo, desde o débil mental ao intelectual, mas
desde que se converta de coração ao Senhor Jesus
Muitos
cristãos católicos se dizem religiosos, mas, não entendendo a graça, vivem numa
relação de mérito e retribuição com Deus, vivendo
uma religiosidade da troca e do interesse. Isso gera a apatia. A
apatia, por sua vez, cria esse marasmo da fé, onde as verdades do Evangelho, os
Sacramentos, não produzem senso de missão e propósito, de modo que o católico
apático vive "empurrando" Cristo com a barriga e é inoperante na missão do Reino.
Esses
cristãos católicos genéticos
têm que se desenvolver, pois é a vontade de Deus que eles se desenvolvam com
plenitude e se tornem maduros em Cristo. Seria contra a vontade de Deus eles
continuarem bebês na fé, uns anões espiritual, 2º Pedro, 3,18, diz que devemos
crescer. Mas, quando cresce e o coração se abre a Cristo, ele lê as Sagradas
Escrituras apaixonado e impactado pela mensagem impressionantemente
surpreendente do Deus que se entregou na cruz em amor a nós. A contemplação de
Cristo eucarístico é como o espelho que contempla e reflete. E quando se
contempla o verdadeiro Cristo não poderá permanecer na incredulidade, no engano
ou na apatia.
Diz - se
que certo fazendeiro trouxe um porco para dentro de casa. Deu-lhe um belo
banho, poliu seus cascos, passou perfume em seu corpo, amarou uma fita com uma
medalha em seu pescoço e o colocou na sala de estar. O porco parecia muito
belo. Parecia até aceitável à sociedade e para os amigos que o visitavam. Após
o banho estava tão fresco, cheiroso e limpo, que dava gosto vê-lo. Tornou-se um
animal de estimação, muito agradável e amigo, por alguns minutos. Mas, assim que o fazendeiro abriu a
porta da sala, o porco fugiu e pulou
na primeira poça de lama que encontrou. Por quê? Porque no fundo continuava a ser um porco. Sua natureza não tinha mudado.
Mudara-se exteriormente, mas não interiormente.
Mas se pegarmos um carneiro
e fizermos o mesmo com ele, depois soltá-lo no quintal, ele fará tudo o possível para evitar a lama.
Por quê? Porque sua natureza é de
carneiro.
Assim, é
preciso tomemos cuidado para não ser igual a um católico genético, aquele pode até ter aparência de bom
cristão, viver intensamente um ativismo religioso, ter até prática sacramental
regular, pode até manter aparência de um santo. Talvez por um tempo engane os
amigos, os padres e seus irmãos com suas práticas religiosas, mas coloque-o
fora da Igreja, num clube, numa noitada de bar e verá sua verdadeira natureza
ressurgir. Sabe por que ele age desta
forma? Porque sua natureza
não mudou, não foi transformada, não se fez discípulo de Jesus.
Na época de
Jesus, havia um homem chamado Nicodemos. Este era muito religioso. Tinha vida
religiosa intensa, mas não conseguia substituir sua religiosidade por uma “vida nova”, uma vida
transformada. Ele era um grande conhecedor da religião, mas não conseguia
substituir o conhecimento religioso por um renascimento
espiritual. Ler: Jo 3,3: Jesus
replicou-lhe: Em verdade, em verdade te digo: quem não nascer de novo não
poderá ver o Reino de Deus.
É ai que eu
quero chegar, ninguém se torna cristão somente em consequência de um processo
de educação religiosa. Daí que muitos católicos
genéticos desconhecem a essência da experiência cristã do discipulado,
porque foram só educados para uma vida religiosa. Não houve mudança interior no coração. Isso não é nenhuma
crítica a nossa Catequese religiosa, mas talvez uma advertência sobre o perigo
do uso impróprio da educação religiosa, quando
esta substitui a experiência
cristã do encontro pessoal com o Senhor Jesus Cristo Vivo e ressuscitado.
Paz e Bem!
Diác. Misael da Silva Cesarino