"Não
admireis, pois vem a hora em que todos os que estão no túmulos ouvirão a voz do
filho do homem, e sairão; os que tiverem praticado o bem, ressuscitarão para a
vida, os que tiverem cometido o mal, ressuscitarão para a condenação"
(Jo
5,28)
Na
morte, que é a separação da alma e do corpo, o corpo do homem cai na corrupção,
ao passo que a sua alma vai ao encontro de Deus, ficando a espera de ser
novamente unida ao corpo glorificado. Deus na sua onipotência restituirá
definitivamente a vida incorruptível aos nossos corpos unindo-os as nossas
almas, pela virtude da ressurreição de Jesus (Cf. CIC 997)[1].
Todos os homens ressuscitarão – todos os que morrem: “os
que praticaram o bem irão para a ressurreição da vida, e aqueles que praticaram
o mal ressuscitarão para serem condenados”. (Jo 5,29). A graça de não mais morrer será conferida aos
ressuscitados, tanto para os justos, como para os condenados. Para os justos a
imortalidade será igualmente o sinal da
vitória que terão obtido com Cristo sobre o pecado; com efeito, na atual ordem
de coisas o homem sofre a morte não como fenômeno meramente natural, mas como
uma sanção devida à culpa do primeiro pai -Adão-; uma vez consumada a vitória
sobre o pecado e suas conseqüências, será restituída ao homem a graça
paradisíaca da imortalidade. Nada mais poderá ameaçar ou coibir a vida dos
ressuscitados, não mais terá tendência a corruptibilidade. Não terá mais
necessidade das funções de nutrição e geração, elementos que os indivíduos e a
sociedade procuram para perpetuar-se e suprir as necessidades do corpo mortal,
pois serão comparados aos anjos do céu (cf. Lc 20,35). Para os condenados, a
imortalidade não será motivo de alegria, mas sim uma pena aflitiva, pois
entrarão num estado de sofrimento eterno.
Outro fato que podemos supor é o fato
de que os ressuscitados, tanto os justos quanto os injustos, possuirão
todos os órgãos e membros, todas as faculdades que o corpo humano por natureza
possui, ainda que, tenham sido mutilado ou disforme por nascença neste mundo, e
ainda conservará também a distinção de sexo. Esse fato, que reputo um tanto
difícil de compreender decorre do fato de que o homem ressuscitará, conforme o
Plano de Deus, a fim de atingir a consumação a plenitude da vida. Assim sendo,
deverá gozar de tudo aquilo que pertence à natureza humana como tal. Assim,
Deus haverá de restaurar nos corpos ressuscitados os órgãos amputados ou
mutilados nesta vida; Ele dará até mesmo aqueles que o individuo nunca tenha
possuído (olhos, por exemplo, aos cegos de nascimento; os desdentados
recuperaram todos os dentes). Também as unhas e os cabelos integrarão o novo
corpo, estes em quantidade normal, nem deficiente e nem excessiva. Também,
devemos ter em conta que muitos órgãos só têm sua função nas circunstancia
dessa vida terrena e não serão utilizados após a ressurreição; todavia já que
pertencem à integralidade da natureza, não poderão faltar. É de supor que seja
assim, pois nada que não esteja perfeito permanecerá na presença de Deus. Assim,
também, depois do juízo final, o próprio universo, libertado da escravidão da
corrupção, participará na glória de Cristo com a inauguração dos “novos
céus e da nova terra” (2 Pd 3,13). Será assim alcançada a plenitude do
Reino de Deus, ou seja, a realização definitiva do desígnio salvífico de Deus
de “recapitular
em Cristo todas as coisas, as do céu e as da terra” (Ef 1,10). Deus
será então “tudo em todos” (1 Cor 15,28), na vida eterna. A vida eterna é
a que se iniciará imediatamente após a morte. Ela não terá fim. Será precedida
para cada um por um juízo particular[2]
realizado por Cristo, juiz dos vivos e dos mortos, e será confirmada pelo juízo final.
Jesus
histórico, o Cristo de Deus, ressuscitou
com o seu próprio corpo: “Vede minhas mãos e meus pés, sou eu mesmo;
apalpai e vede: um espírito não tem carne nem ossos, como vedes que tenho”.
(Lc 24,39); mas Ele não voltou a uma vida terrestre. Da mesma forma, Nele,
todos ressuscitarão com seus próprios corpos, que tem agora.[3]
Porém esse corpo será “transfigurado em corpo de glória”
(Flp 3,21), em “corpo espiritual” (1 Cor 15,44). O corpo glorificado receberá o
dom da agilidade, pelo qual poderá locomover com presteza, sem conhecer o
cansaço e o obstáculo. Essa agilidade é a consequência do pleno domínio que a
alma bem-aventurada exercerá sobre o corpo.
O
corpo ressuscitado não deixa de ser matéria para se converter em espírito, ele é
matéria autentica, pois deixa ser tocado, “Oito dias depois,... estando trancadas as
portas, veio Jesus, pôs-se no meio deles e disse: A paz esteja convosco! Depois
disse a Tomé: Introduz aqui o teu dedo, e vê as minhas mãos. Põe a tua mão no
meu lado...” (Cf.Jo 20,26-27) e ainda, Jesus come com seus discípulos. (Jo
21, 9-15), contudo ser matéria, mas matéria intensamente penetrada pelo espírito.
Matéria mais rica de qualidade, mais nobre do que as que possuí atualmente. São
Paulo em 1ª Coríntios 15,44 – refere-se ao “corpo espiritual”, isto significa,
um corpo de matéria em que o Espírito
Santo expande plenamente a vida e a glória de Deus.
O
corpo glorificado do justo refletirá a glória da alma, que redundará numa carne
tornada translúcida à semelhança de um vidro. Podemos até dizer que a beleza
sobrenatural do Espírito, recebido no corpo, tomará aspecto visível. Isto de
certo modo, na medida em que o batizado possui a graça santificante, já deveria
acontecer aqui na terra, mas não se dá em vista do corpo ainda estar sujeito às
consequências do pecado. Jesus trazia em sua carne essa possibilidade desde o
seu nascimento em Belém, porém, Ele renunciou voluntariamente, só demonstrando
esse poder na transfiguração no monte Tabor. Na transfiguração Ele permitiu que
transparecesse pelo corpo a glória que Ele trazia na Alma. Jesus diz que “...
no Reino de seu Pai, os justos resplandecerão como o sol...” (Mt 13, 43), será Ele
“que
transformará nosso mísero corpo, tornando-o semelhante ao seu corpo glorioso,
em virtude do poder que tem de sujeitar a si toda criatura”. (Flp
3,21), e “no dia de sua visita, eles se reanimarão, e correrão como centelhas na
palha”. (Sb 3,7) e ainda promete que “os que tiverem sido inteligentes
fulgirão como o brilho do firmamento, e os que tiverem introduzido muitos (nos
caminhos) da justiça luzirão como as estrelas, com um perpétuo resplendor”. (Dn
12,3).
A
nova matéria glorificada dos justos em nada poderá padecer ou ser molestada,
nada poderá causar alguma dor, isto esta descrito claramente nas profecias
escatológicas da Sagrada Escrituras, como diz o profeta Isaias: “e
fará desaparecer a morte para sempre. O Senhor Deus enxugará as lágrimas de
todas as faces e tirará de toda a terra o opróbrio que pesa sobre o seu povo,
porque o Senhor o disse”: (Is 25, 8) eles “Não sentirão fome nem sede; o
vento quente e o sol não os castigarão, porque aquele que tem piedade deles os
guiará e os conduzirá às fontes” (Is 49,10), e ainda, o livro do
Apocalipse de São João: “porque o Cordeiro, que está no meio do
trono, será o seu pastor e os levará às fontes das águas vivas; e Deus enxugará
toda lágrima de seus olhos”. (Ap 7,16). Na restauração dos fins dos
tempos, as almas se acharem confirmadas na total adesão a Deus; por estar
unidas ao Senhor terão domínio sobre o corpo, haverá ordem perfeita entre a
carne e espírito. As demais criaturas vão reconhecer o lugar eminente do homem
no Plano de Deus, e elas se harmonizaram com o homem num único conserto de
louvor à bondade de Deus.
Quando isso acontecerá? Após o último abalo cósmico deste mundo que
passa, a vinda gloriosa de Cristo acontecerá com o triunfo definitivo de Deus
na vinda de Cristo e com o Juízo final; assim se cumprirá o Reino de Deus. O
juízo final terá lugar no fim do mundo, do qual só Deus conhece o dia e a hora.
Isso acontecerá definitivamente “no ultimo dia” (Jo 6,39-40; 44.54; 11,24),
no fim do mundo, quando o Senhor vier na Sua majestade e todos os Seus anjos
com Ele (cf. Mt. 25,31) e, vencida a morte, tudo Lhe for submetido (cf. 1 Cor.
15, 26-27), (LG 48)[4].
O juízo final (universal) consistirá na sentença de vida
bem-aventurada ou de condenação eterna, que o Senhor Jesus, no seu regresso
como juiz dos vivos e dos mortos, pronunciará em relação aos “justos
e injustos” (At 24, 15), reunidos todos juntos diante dEle[5].
E a seguir a tal juízo final, o corpo ressuscitado participará na retribuição
que a alma teve no juízo particular.[6]
Lembrando que juízo particular é o julgamento de retribuição imediata, que cada
um, a partir da morte, recebe de Deus na sua alma imortal, em relação à sua fé
e às suas obras. Tal retribuição consiste no acesso à bem-aventurança do céu,
imediatamente ou depois de uma adequada purificação, ou então à condenação
eterna no inferno. Cristo nos julgará com o poder adquirido como Redentor do
mundo, vindo para salvar os homens. Neste grande dia os segredos dos corações
serão revelados, bem como o procedimento de cada um em relação a Deus e ao
próximo. Cada homem será repleto de vida ou condenado para a eternidade segundo
as suas obras. Assim se realizará “a plenitude de Cristo” (Ef 4,13),
na qual “Deus será tudo em todos” (1 Cor 15,28).
A Ressurreição dos mortos esta
intimamente ligada, associada à parusia[7]
de Cristo: “Quando for dado o sinal, à voz do arcanjo e ao som da trombeta de
Deus, o mesmo Senhor descerá do céu e os que morreram em Cristo ressurgirão
primeiro”. (1Ts 4,16). Então teremos a visão beatifica, que é a visão
de Deus na vida eterna, lugar em que seremos plenamente “participantes da natureza
divina” (2 Pd 1,4), da glória de Cristo e da felicidade da vida
trinitária. A bem-aventurança ultrapassa as capacidades humanas: é um dom
sobrenatural e gratuito de Deus, como a graça que a ela conduz. A
bem-aventurança prometida coloca-nos perante escolhas morais decisivas em
relação aos bens terrenos, estimulando-nos a amar a Deus acima de tudo.
Se cremos pela fé que Jesus morreu e ressurgiu, cremos também que Deus
trata como Jesus, por Jesus e com Jesus, aqueles que nele morreram. Digo, pela
palavra do Senhor, que nós, os que estivermos vivos, os que ficarmos até a
segunda vinda gloriosa do Senhor, certamente não precederemos os que já
morreram. Pois, dada a ordem, com a voz do arcanjo e o ressoar da trombeta de
Deus, o próprio Senhor descera dos céus, e os mortos em Cristo ressurgiram
primeiro. Depois nós, os que estivermos vivos seremos "arrebatados" com eles nas nuvens, para o encontro com o
Senhor nos ares. E assim estaremos com o Senhor para sempre. Consolemo-nos uns
aos outros com essas palavras. Amem!
Diác. Misael da Silva Cesarino
[1]
CIC – Catecismo da Igreja Católica - marginal nº 997
[2]
CIC – Catecismo da Igreja Católica - marginal nº 1021
[3]
CIC – Catecismo da Igreja Católica - marginal nº 1042
[4] A Lumen Gentium (Luz dos Povos) é um dos
mais importantes textos do Concílio Vaticano II. e CIC. 1038
[5] CIC .1040
[6]
CIC.1021
[7] Volta gloriosa do Cristo no fim dos tempos,
para o Juízo Final.