Ele nos perdoou!
Quero refletir neste artigo sobre o ato de perdoar. Perdoar as ofensas e o amor aos inimigos constituem uma das características mais evidentes e a maior novidade da moral evangélica. Perdoar é uma das atitudes básicas da nossa fé cristã, pois, a nossa entrada na vida que Jesus Cristo nos ofereceu, só foi possível e aconteceu porque recebemos perdão incondicional do nosso Deus e Pai. Ele misericordiosamente nos perdoou, mediante a obra redentora de seu Filho unigênito realizada na cruz, em nosso favor. Na vida cristã amor e perdão deveram sempre caminhar juntos.
Uma das mais bela e confortadora definição que as sagradas escrituras nos apresentam é esta: “...Deus é amor” (Jo 4,8). E a maior prova do seu infinito amor para conosco foi o perdão de todos os nossos pecados. Porque Ele nos ama infinitamente, Ele nos perdoou. Perdoar é um atributo da personalidade de Deus.
A bíblia no ensina que perdoar é um mandamento da Palavra de Deus. Não é um sentimento, nem depende de nossa vontade ou emoção. A Palavra declara: “Antes, sede uns com os outros bondosos e compassivos. Perdoai-vos uns aos outros, como também Deus vos perdoou, em Cristo” (Ef 4,32); “Suportai-vos uns aos outros e perdoai-vos mutuamente, toda vez que tiverdes queixa contra outrem. Como o Senhor vos perdoou, assim perdoai também vós.” (Col 3,13).
Quando o Senhor nosso Deus nos perdoou, Ele pôs um fim à situação desastrosa e miserável em que nós nos encontrávamos, pois, estávamos condenados à morte eterna como consequência dos nossos pecados de desobediência. “com efeito, todos pecaram e todos estão privados da glória de Deus”. (Rm 3,23), Ele pelo santo batismo nos chamou para uma nova vida, onde o amor e o perdão sempre têm a sua máxima expressão. Ao perdoar as nossas ofensas, o relacionamento amoroso que nos unia a Ele e fora rompido pelo pecado da desobediência, foi restaurado. Diante desse ato de misericórdia e amor imerecido devemos, do mesmo modo, estender nosso perdão a todos àqueles irmãos ou irmãs que nos ofende. O perdão que recebemos de Deus deve gerar em nosso coração o desejo de perdoar incondicionalmente, tal qual com Ele fez conosco. Vemos a misericórdia divina como um atributo comunicável, ou seja, este atributo está presente na vida do cristão. Dessa forma, podemos refletir: Temos sido misericordiosos com o próximo (Ef 4,31-32)? Perdoamos porque reconhecemos que a misericórdia de Deus foi muito maior que qualquer prejuízo nosso?
Perdoar significa deixar de considerar o outro com desprezo ou ressentimento. É a gente ter compaixão, deixando de lado toda a ideia de vingar-se diante daquilo que foi feito ou pelas consequências que dele sofremos. “O rancor e a raiva são coisas detestáveis, até o pecador procura domina-las” (Eclo 27,33). Lembremos que a igreja do Senhor não é a comunidade dos que não eram, dos que não caem, mas dos pecadores que querem voltar aos braços do Pai, sem pretensão; é a comunidade dos que compreende o outro e, se este cai, o ajudam a retomar o caminho juntos.
A base para o ato de perdoar é o completo e livre perdão que recebemos do Pai. Assim como ele nos perdoou, nós perdoamos. Como filhos de Deus o perdão que expressarmos, deve ser análogo ao seu perdão – “Antes, sede uns com os outros bondosos e compassivos. Perdoai-vos uns aos outros, como também Deus vos perdoou, em Cristo.” (Efésios 4,32), ensina o apóstolo. É inconcebível viver sob o perdão de Deus sem perdoar ao próximo. É inconcebível participar da assembleia eucarística, se ela é particularmente lugar de perdão.
Quando Jesus ensinou os seus discípulos a orar, ele colocou um pedido ao Pai: “perdoai-nos as nossas ofensas, assim como nós perdoamos aos que nos ofenderam” (Mt 6,12). É esse espírito de perdão que deve permanecer em nós. Se o Pai, antecipadamente, nos perdoou, quando não éramos merecedores, em gratidão ao seu amor perdoador, nós devemos, também, perdoar aos que nos ofendem. O perdão deve ser uma característica do nosso ser e viver como cristão. Se o amor perdoador de Cristo foi sacrifical, isto é, ele se deu por nós, da mesma forma o nosso amor deve se expressar dando-nos, em amor, por aquele que nos ofendeu. Afinal, Ele nos perdoou!
Diac. Misael da Silva Cesarino