O nosso maior desafio
enquanto Igreja nos dias de hoje, não
está no mundo exterior, mas sim dentro da própria Igreja, é viver o
Evangelho de Jesus de tal forma que ele se torne uma mensagem atraente para as
crianças, jovens e idosos. Enfim para os homens e para as mulheres do nosso
tempo. Só que essa mensagem tem que ser autêntica, fiel a doutrina e responder
as interrogações do mundo de hoje. Essa
mensagem tem ser acreditável, pelo anúncio explícito do Evangelho vivido e
testemunhado.
Penso que, se ainda não
somos convincentes, cativantes em nossas ações evangelizadoras, é porque ainda
existe muito amadorismo em relação à formação e preparação dos nossos fiéis, em
especial com as lideranças, que desembocam em “graves conflitos, muitas discórdias, divisões, apegos aos cargos,
servilismos, acúmulo de responsabilidades, etc.” (Doc 105 CNBB, 47); e
ainda “a necessidade de superação do
analfabetismo bíblico, a preocupação com os afastados, a saída da zona de
conforto, a qualidade das nossas reuniões, a necessidade de mais transparência
na administração das finanças” (cf. Doc 105, CNBB 49).
O sábio Papa Francisco com
seus olhos de águia, no seu discurso à Cúria Romana, em 23 de dezembro de 2014,
elencou quinze doenças que estão presentes em nossas instituições eclesiástica,
inclusive nos conselhos de pastorais. Replico aqui o texto do Doc 105 CNBB. 48,
que diz: “o sentir-se imortal, imune ou
até mesmo indispensável; o martilismo (que vem de Marta); o emperdimento mental
e espiritual; a planificação excessiva e o funcionalismo, a má coordenação; o
Alzheimer espiritual; a rivalidade e a vanglória, a esquizofrenia existencial;
a bisbilhotice, murmurações e mexericos; a divinização dos chefes; a
indiferença para com os outros, a cara de fúnebre; o acúmulo; os círculos
fechados; o proveito mundano, os exibicionismos. Esses também são males -desafios- à serem vencidos.
O Papa avança nos seus
ensinamentos criticando o neopelagianismo[i] eclesiástico,
dando exemplos concretos como o: “carreirismo,
clericalismo, gnosticismo, elitismo, tradicionalismo e outros”. Ele refere
também “à idolatria do mercado, à
centralidade do dinheiro, ao apego ao poder”. Males estes que afetam o
mundo e as suas práticas, recusando cada vez mais a ação gratuita de Deus; mas
que também está presente na igreja.
Muitas vezes se age como simples funcionários e burocratas da instituição
eclesial, confia-se demais nas forças e cálculos, atua-se como agentes de uma
empresa, uma ONG, uma agência de serviços (cf.Doc 105 CNBB, 50.
Estes desafios eclesiais só
serão vencidos, e o Evangelho se tornará uma mensagem atraente para as
crianças, jovens, idosos, enfim para os homens e para as mulheres do nosso
tempo, se: clérigos, cristãos leigos e leigas forem “Sal e luz do mundo” (Mt 5.13-14), “se sairmos de nós mesmos, para iluminar, doar-se, dar sabor e
dissolver em prol do Evangelho, pois nem o sal, nem a luz, nem a igreja e
nenhum cristão vive para si mesmo” (cf. Doc 105 CNBB, 13).
Enfim, se a Igreja, isto é,
cada um de nós, clérigos, leigos e leiga quisermos evangelizar, devemos renovar-se
permanentemente, buscando incessantemente nossa conversão (cf. EN 10) e
começando a evangelizar-se a si mesmo (cf. EN 15). Diz o Papa Francisco, que é
preciso tomar cuidado com o “mundanismo
espiritual” que se esconde por detrás de aparências de religiosidade e até
mesmo de amor à Igreja e busca, em vez da glória de Senhor, a glória humana e o
bem-estar pessoal” (cf. Doc 105 CNBB, 83), preciso buscar incessantemente a
“conversão pessoal e pastoral”.
Pois, só assim, ajudaremos “os membros
da Igreja a se encontrar sempre com Cristo, e assim reconhecer, acolher,
interiorizar e desenvolver a experiência e os valores que constituem a
identidade e missão cristã no mundo” (cf. DAp. 279).
Paz
e bem!
Diác.
Misael da Silva Cesarino
[i] O pelagianismo, proveniente da doutrina de
Pelágio, no final do século IV, ensina que o ser humano tudo pode, tudo faz,
tudo consegue, sem precisar da graça de Deus.
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